Para o CFO, programas de saúde corporativa muitas vezes se parecem com um custo. Para o RH, são um benefício. Mas e se ambos estivessem enxergando de forma incompleta?
E se, na realidade, eles fossem um investimento estratégico com retorno financeiro claramente mensurável?
De fato, os números comprovam essa tese. Por exemplo, um estudo da Deloitte com empresas canadenses mostrou que organizações com programas de saúde mental vigentes há três anos ou mais alcançaram expressivos CA$ 2,18 para cada CA$ 1 investido.
Em escala global, o McKinsey Health Institute estima que melhorar a saúde e o bem-estar dos colaboradores pode, por conseguinte, gerar entre US$ 3,7 e US$ 11,7 trilhões em valor econômico.
No Brasil, a Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que os afastamentos por transtornos mentais e comportamentais cresceram 38,7% entre 2022 e 2023 — um dado que, aliás, serve como alerta sobre o impacto financeiro e humano do adoecimento. Portanto, esse cenário reforça a importância de que a saúde corporativa seja tratada como investimento estratégico e não apenas como custo.
Índice
Toggle1. ROI em Saúde Corporativa: Por que essa métrica é estratégica
Uma vez que as iniciativas de saúde corporativa deixaram de ser benefícios, elas se tornaram indicadores de performance e sustentabilidade.
Por exemplo, empresas que medem o impacto de seus programas colhem resultados mais consistentes:
- Redução de custos assistenciais e sinistralidade;
- Menos absenteísmo e presenteísmo;
- Maior engajamento e retenção de talentos;
- Fortalecimento da marca empregadora.
O ROI permite traduzir cuidado em números e números em estratégia.
2. Quais programas geram ROI mais alto
Prevenção e Promoção de Saúde
- Programas de mudança de hábitos (atividade física, alimentação saudável, controle de obesidade).
- Saúde mental preventiva: cultura de bem-estar, liderança treinada e apoio psicológico.
- Check-ups e rastreamento precoce de riscos.
- Essas ações reduzem custos futuros e ampliam produtividade.
Manejo de Doenças Crônicas e Sinistralidade
- Foco em obesidade, hipertensão, diabetes e colesterol alto.
- Ergonomia preventiva e programas de retorno ao trabalho.
- Esses modelos reduzem afastamentos prolongados e impacto financeiro.
Programas Integrados de Bem-Estar e Saúde Mental
Integram saúde física, mental e social.
A Deloitte destaca que programas maduros de saúde mental geram retorno financeiro e humano, além de fortalecer cultura e engajamento.
No Brasil, o centro FGVsaúde reforça a necessidade de integração entre prevenção, promoção e gestão de doenças para reduzir custos com planos de saúde e aumentar eficiência assistencial nas empresas.
3. Indicadores essenciais para calcular o ROI
Indicadores de Custo (Investimento)
Valor total investido no programa: consultorias, tecnologia, plataforma, campanhas, profissionais e materiais.
Custos indiretos: horas da equipe de RH e gestores dedicados, tempo de implementação.
Custo por colaborador ou custo total.
Indicadores de Benefício (Economia ou Geração de Valor)
- Redução de custos com planos de saúde e sinistralidade.
- Queda no absenteísmo (dias perdidos).
- Redução do presenteísmo (produtividade comprometida).
- Menor turnover e maior retenção.
- Ganhos de produtividade e engajamento.
- Redução de afastamentos prolongados.
- Retorno ao trabalho mais rápido e menor custo de substituição.
Indicadores Complementares
- NPS interno e clima organizacional.
- Taxa de adesão e engajamento nos programas.
- Métricas clínicas (IMC, glicemia, pressão arterial).
- Dados ocupacionais: ergonomia, lesões, acidentes.
Esses dados sustentam o cálculo de ROI e direcionam o investimento de forma assertiva.
4. Como calcular o ROI passo a passo
4.1 A Fórmula Clássica do ROI
ROI (%) = (Benefício Líquido / Investimento) × 100
Benefício Líquido = Valor Total dos Benefícios Obtidos – Valor Total Investido
Forma Simplificada (Ratio):
Retorno para cada R$ 1 = Valor Total dos Benefícios / Investimento
Exemplo: se o retorno total for R$ 3 para cada R$ 1 investido, o ROI é 200% (ratio 3:1).
4.2 O Passo a Passo Prático
01. Estabeleça o baseline: levante custos de sinistralidade, afastamentos e turnover.
02. Mensure o investimento: inclua custos diretos e indiretos.
03. Acompanhe benefícios: registre reduções e ganhos tangíveis e intangíveis.
04. Calcule o benefício líquido: benefícios menos investimento.
05. Aplique a fórmula: obtenha ROI percentual e ratio.
06. Projete ganhos futuros: o retorno máximo é alcançado com a maturidade do programa, isto é, tipicamente entre dois e três anos. Esse fenômeno é respaldado por dados. Por exemplo, um estudo da Deloitte revelou que o ROI mediano em empresas com programas consolidados (três anos ou mais) saltou para CA$ 2,18 para cada CA$ 1 investido.
07. Simule cenários: otimista, base e conservador.
08. Reporte com clareza: apresente ROI, payback e variáveis críticas.
4.3 Exemplo Prático
Uma empresa com 1.000 colaboradores investe R$ 500 mil em saúde corporativa.
Após 12 meses, economiza R$ 800 mil em sinistralidade e R$ 200 mil com absenteísmo, totalizando R$ 1 milhão em benefícios.
ROI = (1.000.000 – 500.000) / 500.000 × 100 = 100 %
Cada R$ 1 investido retornou R$ 2 (ratio 2:1).
Com maturidade e maior adesão, o retorno tende a crescer.
4.4 Modelo Prático de Planilha de ROI
Para facilitar a aplicação, utilize uma planilha simples:
- Coluna A: Tipo de Custo (Investimento direto, indireto, comunicação)
- Coluna B: Valor investido (R$)
- Coluna C: Benefícios mensuráveis (ex.: economia com sinistralidade, redução de absenteísmo)
- Coluna D: Benefício Líquido = C – B
- Coluna E: ROI (%) = (Benefício Líquido / Investimento) × 100
Dica: Simule diferentes cenários com a finalidade de apresentar resultados visuais ao CFO e à diretoria.
5. ROI por setor e porte da empresa
O ROI varia conforme setor, perfil da força de trabalho e maturidade do programa.
Indústria / Manufatura
Desafios: ergonomia, lesões musculoesqueléticas e turnos.
Implicação prática: priorize ergonomia, prevenção de doenças crônicas e hábitos saudáveis.
Meça impacto em dias de afastamento evitados e custo médio por dia perdido.
Serviços e Tecnologia
Desafios: sedentarismo, saúde mental e presenteísmo.
Implicação prática: foco em bem-estar psicológico e ergonomia digital.
Mensure produtividade e engajamento, não apenas custos diretos.
Pequenas e Médias Empresas (PMEs)
Desafios: recursos limitados e menor maturidade de dados.
Implicação prática: comece pequeno, mas com alta adesão. Monitore resultados e comunique-os.
Grandes Empresas / Multinacionais
Desafios: múltiplas unidades, pressão ESG, escala.
Implicação prática: invista em analytics e dashboards. Planeje ROI em horizonte de três a cinco anos.
Caso Real: Empresa Brasileira de Serviços
Só para exemplificar, uma empresa de tecnologia com 3.000 colaboradores implantou um programa de saúde mental e ergonomia digital. Em 18 meses, obteve:
- Redução de 27% nos afastamentos por transtornos mentais (CID F);
- Diminuição de 18% na sinistralidade do plano de saúde;
- ROI de 2,4:1 (R$ 2,40 retornados para cada R$ 1 investido).
Além disso, a pesquisa interna mostrou aumento de 22% na percepção de bem-estar e pertencimento.
6. Gatilhos que elevam o ROI em Saúde Corporativa
Com toda a certeza, nem todo programa gera o mesmo impacto. Por certo, a diferença entre resultados medianos e retornos exponenciais está nos gatilhos estratégicos — elementos que ampliam adesão e a sustentabilidade.
Liderança Engajada
Quando líderes participam e comunicam a importância das ações, a adesão cresce. Além disso, a presença da alta gestão transforma o cuidado em verdadeiro valor organizacional.
Cobertura Completa da Jornada de Saúde
Programas integrados que unem promoção, prevenção, cuidado e reabilitação são, por conseguinte, os que mais geram retorno.
Maturidade do Programa (3+ anos)
Segundo a Deloitte, programas implantados há mais de três anos atingem o pico de ROI. Assim, comprovam que a consistência gera resultados concretos.
Uso de Dados Reais e Operacionais
Empresas que cruzam dados, por exemplo, de sinistralidade, absenteísmo e produtividade, conseguem mensurar o real impacto.
Comunicação Efetiva e Alta Adesão
Sem engajamento, o melhor programa falha. Dessa forma, a comunicação segmentada e as campanhas contínuas aumentam significativamente a participação.
Integração com ESG e Propósito de Marca
Quando a saúde corporativa está alinhada ao propósito e à agenda ESG, ela deixa de ser custo e, consequentemente, passa a representar valor.
7. Desafios na Mensuração e como superá-los
Mensurar o ROI exige método, consistência e visão de longo prazo.
Presenteísmo Invisível
Colaboradores presentes, mas improdutivos, custam caro e são difíceis de mensurar. Por isso, ferramentas como o Work Limitations Questionnaire (WLQ) ajudam a quantificar perdas e, consequentemente, apoiar decisões.
Retorno no Longo Prazo
Muitos gestores esperam resultados imediatos; contudo, o impacto sustentável aparece em 24 a 36 meses. Portanto, é essencial comunicar ganhos intermediários e, além disso, manter o acompanhamento constante.
Baixa Adesão
Quando não há conexão com o público, por consequência, não há resultado. Por isso, é importante adaptar a linguagem, personalizar comunicações e, ademais, envolver líderes.
Falta de Linha de Base
Sem dados de partida, de fato, não há comparação possível. Dessa forma, é necessário definir indicadores e metas antes da implementação.
Desalinhamento Estratégico
Programas genéricos raramente funcionam. Portanto, é preciso alinhar a estratégia de saúde ao perfil e à cultura da empresa.
8. Estruturando o Projeto de ROI
01. Diagnóstico inicial: levantamento de dados de saúde, absenteísmo e sinistralidade.
02. Definição de metas: reduções percentuais ou financeiras claras.
03. Seleção dos programas: baseados em riscos e prioridades.
04. Planejamento financeiro: custos, prazos e cenários de retorno.
05. KPIs e metodologia: escolha de indicadores e ferramentas de coleta.
06. Implementação e governança: definição de responsáveis e pontos de controle.
07. Monitoramento contínuo: mensuração periódica de resultados e engajamento.
08. Apresentação executiva: consolidação dos resultados em relatórios de negócio.
9. O que o ROI entrega além de números
O ROI vai além da matemática financeira, pois traduz o impacto humano, cultural e estratégico do cuidado.
- Eficiência financeira: redução de custos assistenciais e sinistros.
- Engajamento e retenção: times mais motivados e produtivos.
- Marca empregadora forte: empresas que cuidam atraem talentos.
- Produtividade sustentável: menos afastamentos e interrupções.
- Responsabilidade corporativa: alinhamento com práticas ESG e saúde integral.
Mais do que números, o ROI representa maturidade organizacional — o reflexo de empresas que entendem que cuidar é, acima de tudo, investir.
Ademais, medir o ROI em saúde corporativa é mais do que comprovar resultados: é, sobretudo, traduzir o impacto do cuidado em valor para o negócio.
Quando uma empresa compreende que, afinal, a saúde dos colaboradores está diretamente ligada à produtividade, engajamento e sustentabilidade, ela passa a enxergar o investimento em bem-estar como parte integrante da sua estratégia de crescimento.
Assim sendo, ao colocar a saúde no centro das decisões, a organização não apenas fortalece sua cultura, mas também reduz custos e, por conseguinte, constrói uma base sólida para prosperar de forma sustentável.